17/08/05

Ser mulato em Londres, por João Negrão

No dia 22 de Julho o brasileiro mulato Jean Charles de Menezes foi morto pela polícia britânica à queima roupa no metro de Londres. Primeiro disseram que levou três tiros. Primeira mentira: levou oito tiros. Sete na cabeça e um no ombro. Acharam-se ainda mais três cartuchos. Foram disparados onze projécteis. Depois tentaram justificar o fuzilamento dizendo que o brasileiro Jean Charles levava uma mochila, usava um sobretudo largo e suspeito, que adoptou um procedimento suspeito, não comprou bilhete, que desobedeceu a uma ordem, que corria, que pulou por cima da barreira de acesso ao metropolitano. Mentira, mentira, mentira, mentira, tudo mentira. O mulato brasileiro levava um pequeno saco com os seus haveres, como qualquer pessoa normal que se desloca para o trabalho, usou o seu bilhete pré-comprado, apanhou a carruagem em passo apressado, como toda a gente faz, vestia um leve blusão de ganga justo ao corpo. Diziam também que resistiu à ordem de prisão. Mentira, mais uma vez. isto é, em toda a história contada pela polícia não há um grão de verdade, é tudo mentira. Porque morreu então Jean Charles? Por uma razão só: o seu prédio estava sob vigilância. Às 9h30m da manhã Jean Charles saiu para trabalhar e foi dado como suspeito. Porquê? Porque é mulato e os anglosaxónicos de pele leitosa e cabelo ruivo confundem mulatos com árabes e acham que os árabes são suspeitos de terrorismo. Azar ser mulato em terra de burros!