23/10/06

As minhas leituras, por Jean Báljan

Há uns meses, mais ou menos, que quase não consigo ler nenhum livro até ao fim. Começo-os mas, miséria das misérias, não lhes consigo dar vazão suficiente: Não os acabo com a velocidade de outros tempos. Depois vão-se empilhando na mesinha de cabeceira. O Assis Pacheco em cima do Sepulveda, este por cima do Gao Xingjian, este por seu turno por cima do Krishnamurti por seu turno em cima do Olivier Rolin, por seu turno em cima do Abrunheiro por seu turno sobre um livrinho antigo e já amarelado sobre Ocultismo de um cavalheiro de que agora não me lembra a graça, etc., até quase esconder o candeeiro. E em cima disso tudo, uma Time (edição europeia) de há dois meses, uma Pública de há três semanas e uma National Geographic de há um ano e picos. Em contrapartida leio o Público todos os dias e revistas com fartura. Se bem que o Público também é leitura incompleta, já que passo à frente as páginas do futebol por ser alérgico ao desporto escrito e falado. Aliás, nas revistas também não leio tudo. Nos cafés leio o Diário de Coimbra, As Beiras, O Figueirense e, quando os há, o Correio da Figueira e a Voz da Figueira. Depois, farto-me de ler coisas na Internet, aderi ao vício das newsletters e recebo correio com novidades diárias, semanais ou quinzenais de coisas como o NY Times; a Maxideia; a Sapo Saúde; o What Doctors Don’t Tell You; a Foreign Policy; o boletim informativo da ONU (que tem um excelente serviço noticioso para assinantes); as Informações de Segurança do Millenium; as efemérides diárias (excelentes) do Canal História; os boletins do Ciência Hoje; os alertas do Google News sobre Portugal, Coimbra e Figueira da Foz; notícias da NASA sobre ocorrências e “inventos” no espaço; a news-letter do Health World Online; a news-letter da New Scientist; da BBC Science&Nature; a news-letter do Figueira.net; a da Human Rights Watch. E mais umas quantas de mais uns quantos temas e umas quantas geografias que ficam aqui de fora em nome do fastio. Tudo isto não substitui, obviamente, a leitura de livros, que se tornou prática eminentemente nocturna e de almofada: todas as noites um bocadinho obrigatório antes de cerrar a pestana. Já a leitura electrónica é para ir lendo ao longo do dia durante a jorna, se a jorna permitir. Além disto há os sites, os portais, o correio electrónico pessoal e os blogues, a que também vou dando uma pestanada, quando posso. Bem como as legendas dos filmes, dos documentários e das séries de ficção/estimação como os Sopranos, que de resto, tem argumentos/textos fabulosos. No elevador dou ainda uma vista de olhos ao Dicas e aos folhetos publicitários com que me enchem a caixa do correio e que às vezes trazem umas promoções catitas. Antes de jantar leio o correio postal mais sério e personalizado, quando o há. Na cagadeira gosto mais de revistas de informação geral e do Courrier Internacional. No caminho de casa para o trabalho e vice-versa, que faço a pé ou de bicicleta, não deixo ainda de ler os cartazes, os folhetos, as faixas e os mupis que me aparecem à frente. Quando me interessa, paro e leio tudo antes de reprosseguir. Também dedico uma parte dos meus dias a ler SMS’s e Messenger’s (ultimamente também leio as mensagens dos meus amigos que descobriram que o Gmail também tem um serviço de chat). Como entre outros ofícios, também sou agora editor de uma revista mensal, pelo menos uma semana por mês leio (e corrijo) todos os artigos a publicar. Além disto, quando vou às compras, leio os rótulos dos produtos. Por razão que adiante perceberão, também leio catálogos de editoras. Por mor de compor o orçamento, também leio transcrições de julgamentos. Leio ainda capas e brochuras de CD’s e DVD’s, bem como os ditados, graças e provérbios nos pacotes de açúcar. Às vezes, durante o dia, para desenjoar e como também trabalho numa livraria, pego num livro e leio um bocado. Quando aquele é de feição a agarrar-me pelos tomates, levo-o para casa e junto-o à pilha da mesinha de cabeceira para ir lendo mais devagarinho, umas linhas por noite até se me cansarem as pestanas.

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