17/04/07

O Filão Barbarella de Forest, por Bobby Peru

A primeira heroína da BD erótica surgiu nos anos 60. Chamava-se Barbarella e o seu autor foi o francês Jean-Claude Forest. Quem lê hoje a série acha incrível como é que aquilo teve problemas com a censura nos anos 60. O desenho é convencional e de erótico tem muito pouco, mas os nossos tetravós dos sixties deviam ser uns taradões do camandro porque aquilo foi um mega sucesso. Forest imaginou um cenário no futuro, claramente inspirado em Flash Gordon e deu a esse espaço ingénuo uma dimensão erótica, talvez demasiado tímida, ainda assim, para os nossos padrões actuais. Barbarella, há que dizê-lo com toda a frontalidade, não dá tusa! Mesmo assim deu origem a um filme de Roger Vadim com Jane Fonda (essa sim, bem mais entusiasmante que Barbarella) no papel da protagonista.


Barbarella, contudo, foi uma pedrada no charco da BD que até então era uma coisa infanto-juvenil. Basta pensarmos em Tintim - a série é um verdadeiro protótipo misógino em que não existe uma única mulher a não ser a gorda e feia Castafiore. Ou em Astérix ou Spirou, ou então, nos comics americanos como o Capitão América ou Batman (sobre o Super Man tenho outra visão, mas a sexualidade do kryptoniano dava outro post…). Percebemos facilmente que, até à data da publicação de Barbarella, os Comics eram mais ou menos assexuados. Isto, apesar das leituras psicanalíticas que viam nas parelhas de super-heróis como Batman-Robin, Aquaman-Aqualung ou Green Arrow /o coisito que o acompanhava e de cujo nome não me recordo agora, modelos homossexuais dissimulados. Com Barbarella praticamente nasce o comic adulto e, mais importante, a série dá início a uma vaga de heroínas porno-eróticas de ficção científica, mas também de outros géneros, que se multiplicam nas décadas seguintes.

Tal é o caso de Zakarella ou de Vampirella, por exemplo, ou da própria Tarântula (no original italiano, Donna Tarantola, citada pela nossa assistente Dra Gótika) ou ainda da Corsara Nera, de Ramba ou do Capuchinho Furado (péssima tradução do original italiano Cappuccetto Rotto). O francês Forest abriu, de facto, um filão que os tarados dos italianos haveriam de explorar como ninguém. E é precisamente esse filão que nos chega logo a partir do 25 de Abril e vem marcar a memória porno-erótica dessa e das gerações seguintes. Há outros filões, claro, como as épicas Ginas e Tânias. O enraizamento epistemológico deste outro género enquadra-se, a meu ver, na imortal cena da Maria, do Marln e da Manteiga em O Último Tango em Paris do respeitável Bertollucci. Mas sobre isso deve falar quem sabe. Tem a palavra o maior catedrático da UT na matéria, assim ele não preguice, Sua Alteza, O Grão…

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