21/06/07

Homens-Cicciolinas, por Tarado do Seixal

No post da Patty mesmo aqui em baixo (Orgasmos: Um para Ti, Um para Mim, ( Parte I), by Patty Labelle) uma nossa leitora que assina Pipi saiu-se com esta:

«Está provado q o homem n consegue falar de sexo- questionar- com medo q isso ponha em causa a sua virilidade...
0 q dá para perceber e comprovar, pelos comentários q passam por aqui... afinal, vocês têm medo do quê?»

Temos medo de quê, malta?
Eu acho que a Pipi toca num ponto sensível. É verdade que nós, os homens, não falamos habitualmente de sexo a não ser para javardar. Então de que é que falamos quando estamos juntos?

De futebol. De gajas. De golfe. De gajas. Uns dos outros. De gajas. De política. E, sobretudo, de gajas! Pois é, falamos de gajas. Mas isso significa: não saímos do nível da brejeirice, tipicamente masculina. É o estilo de conversa «aquela gaja é munta boa», e «aquela tamém é boa komó milho» e «ai meu deus, agarrem-me» e «fazia-me um galifão» e por aí adiante. Doutores ou engenheiros, até mesmo arquitectos, quando se trata de falar de gajas, transformamo-nos todos no pedreiro das obras a amandar bocarras foleiras às garinas. Nem que seja baixinho… E como passamos a vida a falar de gajas com uns intervalos pá bola pelo meio, somos todos uns pedreiros do caraças.
Ou seja, a Pipi tem razão, tem toda a razão. Nós nunca falamos seriamente e, muito menos sinceramente, de sexo. Só de gajas. Há uma diferença abismal. E se o tema ameaça passar para registo sério, o mais certo, entre nós, é haver logo um que os tem no sítio que trata de arrumar o assunto com uma boca boçal. Isto é verdade, como todos os homens sabem.

As mulheres, pelo contrário, discutem o tema abertamente. É verdade, a Pipi tem razão, este blog é uma prova disso mesmo. Um dos assuntos que mais tratamos aqui é, calro, gajas. Mas reparem nos comments, passem os olhos pelos posts do tapor dos últimos anos, acabam todos na javardeira ( e não, não é verdade, nem todos os temas acabam aqui na javardeira). Mas porque é que, afinal, não conseguimos falar de sexo?

Será porque, como diz a Pipi, temos medo de pôr em causa a nossa preciosa virilidade? A tese é psicanalítica. É como se a palavra que nomeia o acto fosse mais perigosa que o próprio acto. É engraçada essa relação entre sexo falado/praticado e essa reclamada incapacidade do macho em lidar com o sexo, enquanto sistema verbal. Na Psicanálise o trauma é tratado quando é nomeado, trazido à superfície pela palavra. Ao conseguir nomear e falar do trauma, o paciente dá um passo decisivo para a cura. Tratar é falar. E, nesse sentido, o diagnóstico da Pipi, é pertinente. Se um sujeito não lida naturalmente com a verbalização de alguma coisa, isso pode muito bem indicar a presença do trauma. Seremos, todos os homens, como a Cicciolina que confessava ontem, quando foi entrevistada por uma rádio nacional «que não gosta de falar de sexo»? Temos que marcar um jantar para discutir o problema...

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