18/09/07

Pata Negra, Bellota, Ibéricos e Ali-O-Quimico, por Zé Critério

A pata negra é um mito. O que interessa é a bolota. Esse é o segredo do grande presunto. Por aqui, insiste-se na raça de porco preto, que dá o conhecido Pata Negra e vende-se a coisa um preço estúpido, por vezes superior a um bom Bellota, só porque vem do bicho preto. Idiotioce.

Certa vez a caminho do Romerijo de El Puerto de Santa Maria, e ao atravessar a Sierra de Aracena, junto aos Picos de Aroche, prestes a poisar noutro mito, a casa Sanchez Romero Carvajal em Jabugo, intentou-se na explicação. Ali, à vista das varas de Ibéricos soltos nos Alcornocales e ao cheiro dos pés descalços do Ali-O-Químico, procedeu-se à explicação da quinta-essência do Bellota.

Infelizmente, o Químico voltou com outro dos seus ataques do “não me fodam questes pézinhos, que não deitam cheiro” e a coisa perdeu-se no meio da berraria e chacina de tão nefandas e mal-cheirosas extremidades porcinas. Maldita tara de argumentar, metendo os presuntos nas bentas alheias! Não há bollota que resista!

Pois agora volta-se ao presunto. O porco ser preto é irrelevante. O que interessa é ser porco de raça Ibérica, ou no nosso caso, de raça Alentejana. E isto porquê? Porque é o único bicho que sabe e consegue descascar a bolota. Parece incrível, mas é verdade. O Ibérico e o seu primo Alentejano são os únicos porcinos que sabem retirar a casca – de digestão difícil – e comer apenas o interior da bolota.

O engraçado da questão, é que, como o Ibérico (preto ou não) é de crescimento e maturidade lenta, os peritos já por várias vezes tentaram o cruzamento com outras raças mais precoces. Contudo, o suíno daí resultante perde a habilidade de descascar a bolota e ao comê-la inteira, a carne torna-se mais amarga e menos gorda e perfumada. Donde nos resta concluir que logo no porco, o Ibérico é gourmet.

Estes bichinhos ao pastarem a bolota lentamente e ao longo de três ou quatro anos, dão origem a uma carne raiada de veios de gordura, brilhante, sápida e plena de cheiro. Alambazar tal coisa é ascender a algo próximo do divino. Um bom bellota de boa cura, derrete-se e desliza na boca, tornando a mastigação quase irrelevante. A boca enche-se de perfumes silvestres adocicados e a descida à terra apenas se opera se o tinto for mau.

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