14/01/08

O exemplo do Boavista, por Cão

Qual é a diferença entre os adultos que somos hoje e as crianças que hoje nascem? É esta: nós não temos onde cair mortos, elas não têm onde nascer.
Neste país, já não há distinção entre “desengraçado” e “desgraçado”, sequer ortográfica. Se a houvesse, notá-la-íamos entre os 68 cêntimos mensais de actualização das reformas e o salário do ex-caixa de banco Armando Vara. Não é o céu, portanto, que não tem limites: é a “Pátria”.
É facílimo demonstrar quão tudo é dificílimo. Ele é o fartote do aluguer de aviões e helicópteros da “época de incêndios”: quantas fortunas particulares com dinheiros públicos não estarão a ser amealhadas à conta do regabofe que é o crónico atraso dos concursos de compra? Ele é o “Tratado de Lisboa”, que já não vai a referendo porque sim: está tudo tratado. Ele é a “Lei do Tabaco”, o novo apartheid a que se seguirão os regulamentos policiais do Açúcar, do Toucinho, da Farinheira, do Calçado com Solas Vulcanizadas, do Copo de Plástico, do Travesti de Carnaval, do Gay de Todo o Ano, da Ovelha com Chip da Serra da Estrela e, ainda, a do Porreiro-Pá-Porreiro-Pá.
Os partidos com menos de cinco mil militantes (como o Boavista F.C., por exemplo) vão ter de fechar. Recomendo-lhes vivamente que, para sobreviver, se transformem em “igrejas”: basta-lhes inscrever meia dúzia de “bispos” brasileiros (como o Boavista, por exemplo).
Ele há, porém, consolações: e não, não estou a referir-me nem ao Goucha nem ao Baião. Refiro-me à consoladora proposta que o mais famoso casal algarvio, os McCann, recebeu. Parece que alguém quer levar ao cinema um filme sobre a Maddie. Tenho uma proposta para o elenco: a Esmeralda como personagem secundária. Toda a gente sabe quão secundária é a Esmeralda.
(Aos quarenta e picos anos, o que me aborrece não é não ter onde cair morto. É não ter como renascer. Sim, como o Boavista.)

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