26/03/08

As Múscias do Porco: The Rolling Stones - Starfucker, por Dandelion

Inspirado pelo novo blog porno, Jardim das Delícias (publicidade aqui mesmo em baixo), resolvi fazer este postezito sobre a música mais pornográfica dos Rolling Stones, a canção maldita de Goat`s Head Soup, Starfucker. Starfucker é o nome não oficial da música. No álbum de origem o nome da canção é Star Star e é essa a sua designação oficial. No entanto o seu nome de baptismo é Starfucker e é assim que é conhecida pelos indefectíveis.


Starfucker fala-nos de uma groupie. Para quem não sabe, groupies era o nome dado nos anos 60-70 à legião de garinas que andavam literalmente atrás das suas bandas preferidas na esperança de vir a papar alguma das suas estrelas preferidas. Ainda as há, claro, só que ninguém as conhece assim. Agora são simplesmente «fãs» que é uma palavra andrógina que tanto dá para macho como para fêmea. Goupie não, groupie era gaja mesmo. Ser groupie era uma forma de vida, uma espécie de devoção religiosa («Adoram mais os Rolling Stones que a Deus», dizia um pastor de uma seita antes do mítico concerto de Julho 82 em Madrid). O ponto mais alto da vida de uma groupie era ir para a cama com uma das estrelas da sua banda de preferência, quando não era com a banda inteira... Sendo os Stones o grupo mais popular dos anos 70, compreende-se que tivessem uma enorme multidão de groupies que os perseguia por todo o lado. Como testemunhava Bobby Keys, o saxofonista que ainda hoje acompanha os Stones: «Groupies? Oh yeah, man. In the early seventies? Like flies.» O filme Cocksucker Blues, realizado pelo famoso fotógrafo Robert Frank, documenta esse ambiente - orgias a bordo de um avião, chutos de heroína, sniffs de cocaína, Bianca Jagger, o back stage decadente… Os Stones impedem ainda hoje a difusão pública do filme por o considerarem nefasto para a sua imagem (imagine-se!) mas como é óbvio ninguém trava o you tube (voltarei a Cocksucker Blues um destes dias).


Pamela des Barres é o nome da groupie retratada em Starfucker. Pamela coleccionava stars. No seu livro I`m With the Band, de 1985, gabava-se de ter papado, entre outros, dois Zeps, Page e Moon, Waylon Jennings e muitas outras estrelas do Rock`n`Roll. Mas segundo a própria, Mick Jagger tinha sido a sua coroa de glória, o apogeu da sua vida de devota. Compreende-se assim que os Stones lhe tenham dedicado, amavelmente, diria eu, uma músicazinha e que lhe tenham chamado, justamente, Starfucker. É a pressão da editora a Atlantic Records que leva à censura do título original para o insipiente Star Star e que faz com que a banda altere o refrão de Starfucker para um inócuo Starbucker (Depois de let`s Spend the night together ter passado a Let`s Spend Some time together, ainda nos anos 60 num Ed Sullivan Show, santa hipocrisia).


Com era típico da época, a canção trouxe problemas com uns clientes habituais das embirrações com os Stones, as organizações feministas (mas também os problemas com as feministas sempre foram uma constante na banda, desde os primórdios, até aos covers, esses sim, deliberadamente provocatórios, de Its Only Rock and Roll (1974) e de Some Girls (1978). As feministas acharam que Starfucker era uma canção machista, uma visão degradante da mulher ao que Jagger respondeu e muito bem que não, que a canção era sobre uma pessoa, uma mulher em concreto e não um juízo de valor sobre as mulheres em geral.


Starfucker é uma peça do reportório clássico dos Stones, uma típica canção de Rock´n`Roll a fazer lembrar o estilo de Chuck Berry com citações mais ou menos claras de Johny B. Good. É interessante quando se fala em clássicos stonianos porque algumas das suas melhores e mais conhecidas músicas – Angie, Simpathy for the Devil, You Can`t Always Get…, Ruby Tuesday, etc - não são verdadeiros clássicos no sentido em que não se enquadram no estilo mais rokeiro que haveria de os celebrizar. Neste sentido, clássicos stonianos são, por exemplo, Star me Up, Brown Sugar, Sway, Tumbing Dice ou o imortal Jumpin Jack Flash. É nesta linha, neste estilo musical puro e duro, que enquadro Starfucker, um dos maiores clássicos de sempre dos Rolling Stones.


Star Star fechava o lado B de Goat`s Head Soup. Juntamente com Angie, que fechava o lado A, é a música mais badalada do disco, mas devido a todas as polémicas que evolveram o seu lançamento acabou por se tornar numa canção maldita (como Under My Thumb, por exemplo ou, no fim dos anos 60, Simpathy for the Devil). Foi recuperada em 76 aquando da entrada de Ron Wood nos Stones. Na última digressão (a Bigger Bang) os Stones chegaram mesmo a tocá-la, mas infelizmente não em Portugal. Apesar de excelente, a melhor versão não é a original de 73, mas a espantosa versão de Love You Live, gravada em Paris no Abbatoirs em 1976. Podem ver/ouvir esta versão no you tube sacada directamente do mítico concerto dos Abbatoirs com Keith Richards num dos mais empolgantes solos de que tenho memória. É estrondoso: metam as colunas no máximo e que se lixem os vizinhos.

Aqui: http://www.youtube.com/watch?v=kAil7WQ9dms.

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