18/07/08

«Caminhos Que Não Levam A Nenhuma Parte», por Duende Que Caminha

Não há nenhum livro fechado: estão todos abertos, ligados por cadeias secretas que só os leitores podem abrir. Um livro é sempre uma porta por onde se entra em mundos com novas portas e de onde nunca se sai definitivamente. Um livro só não existe porque os livros nunca existem isolados mas numa infinita cadeia de infinitos livros irmãos. Dizer «um livro» é uma contradição nos termos - a palavra devia ser plural e não admitir singular. Apenas existe o acto de ler. Ler sem parar. Ler eternamente.

Só tenho dúvidas num aspecto: se esta cadeia que une todos os livros é apenas uma construção (subjectiva) de cada um ou se é uma teia real e invisível que nos limitamos a descobrir (objectiva). Por exemplo, é difícil não descobrir um nexo invisível que une o misticismo filosófico d`O Jogo das Contas de Vidro de Herman Hesse e a sabedoria serena d`Os Jardins de Luz de Amin Maalouf. Parece que os ambos encontraram uma parcela de uma mesma verdade mais profunda, à qual só o leitor dos dois tem acesso. Quem segue, então, por Maalouf adentro depara-se com Samarcanda e com a saga do Omar Kahyam e de Hassan Sabbah. Daqui é fácil ir dar a Alamut de Bartol e deste chegamos à literatura de despojamento de Sheltering Sky de Paul Bowles. Daqui à angústia serena de Todo o Mundo de Phillip Roth é um passo e a conexão nunca mais pára (neste momento já vou em El Hereje de Miguel Delibes, mas demorava uns posts a explicar a cadeia que a ele me conduziu). Interessam-me, para além dos livros propriamente ditos, estes nexos invisíveis que nos fazem ir de uns para outros, essa espécie de intra-literatura que nos faz viajar de livro em livro.

E vocês? Como é a teia que vos faz passar de um livro para o outro? Era engraçado que expusessem aqui essas cadeias que cada um descobriu entre os seus livros. Os comments estão à vossa disposição…


Pic: Mondrian, Manhattan

4 comentários:

Anónimo disse...

porreiro, tou a ver que a malta do porco anda a ler deleuze. e se nao anda parece que devia...

Anónimo disse...

Deleuze nem por isso, Kordump. Mas há por aqui ecos heideggarianos assim como john holmianos. Mais este - muito mais - que aquele, claro...
Malta do Porco

Anónimo disse...

ok, nota tomada e nomes acrescentados à lista.

Anónimo disse...

Fónix,ca ganda posta! Sim senhor, tenho andado arredado das lides e ao pôr os posts em dia dei com esta pérola, vergonhosamente pobre de gróinks, apesar do desafio estimulante do postador. Do Hesse para o Malouf, claro, o oriente e as sabedorias antigas. Mas esta malta é só mesmo putas e vinho verde. vergonhoso. Só acho é que o desafio devia ser lançado para os posts e não para os gróinks, pelo menos para membros e amigos ou amigas dos membros. Hiper-leituras, sim senhor.