03/11/08

A Morte dos Mestres, por Alves

Segundo números oficiais, só no último ano, reformaram-se cerca de 5000 professores que não estiveram para aturar as barbaridades em série das cabeças valterianas do ministério da educação. Mesmo com prejuízo monetário efectivo estes 5000 professores preferiram antecipar a reforma.

Claro que num ministério onde proliferam personalidades tacanhas isto até é bom. Vão estes vêm outros mais baratos. Mas acontece que a situação é dramática. Ao logo da minha vida tive bons, maus e razoáveis professores. Mas os melhores, aqueles que mais me marcaram eram professores com uma certa idade, professores que andavam na casa dos quarenta/cinquenta, precisamente a idade de muitos dos que agora se reformaram precocemente. Estas são, precisamente, as idades em que um professor está no seu apogeu. Mas o espantoso governo socretino, apostado em fazer-lhes a vida negra, prefere criar-lhes condições para sairem do sistema.

Penso nos grandes profs da minha vida: nos professores Monteiro e Beatriz e nas inesqueciveis viagens no tempo que fazíamos nas suas aulas de História, na grande Lívia Múrias, uma sumidade em literatura portuguesa e não só, na erudição de Miguel Baptista Pereira, um gigante que teve o azar de ter nascido em Portugal... Assusto-me só de pensar que nunca teriam sido meus professores se na altura o país fosse governado por um governo como o actual. Todos eles, obviamente, ter-se-iam reformado se estivessem dependentes de um ministério da educação tão acéfalo como este. E, sem eles eu não teria aprendido as coisas que eles me ensinaram e seria uma pessoa, certamente, muito diferente do que sou hoje. Para pior, claro. É assutador pensar que os profs Miguéis, Deolindas, Lívias e Monteiros ainda existem mas estão-se a reformar precocemente por causa dos ininputáveis que nos governam. Tremo só de pensar que a sinistra ministra está a sacrificar uma geração inteira de Mestres e, consequentemente, a retirar aos alunos o direito e o privilégio irrepetível de conviverem e de aprenderem com eles. Estão a matar a alma das escolas. Estão a matar os mestres impunemente. Pobre da sociedade que assiste a isto passivamente, acriticamente, aqui e ali até com aplausos próprios dos que ferecem maiorias absolutas a granel.

Olho para os putos de hoje e tenho pena deles. Numa escola sem exigência em que o que importa é o milagre estatístico do sucesso os Mestres sentem-se a mais, estão a mais, despedem-se, vão-se embora. Quem perde são os putos. Na sua pequenez assustadora, esta gente que nos governa nunca conseguirá compreender a dimensão do mal que lhes causou.

Pic - par de sapatos de Van Gogh.

Sem comentários: