20/10/09

Brian Ward-Perkins, A Queda de Roma e o Fim da Civilização, por M. Aurélio


Editado pela Aletheya (2005), este livro foi, para mim, uma espécie de introdução ao tipo de pensamento próprio de um arqueólogo. Trata-se, pois, de um registo muito diferente daquilo que são as minhas leituras padrão. E como é que pensa um arqueólogo?

Pensa, dando ênfase a pequenas coisas que passam aos outros mais ou menos despercebidas. Procura fazer falar as coisas - as ânforas, as casas, a cerâmica, as inscrições, as moedas, a economia (os bens de consumo, a alimentação, etc)... Partindo de vestígios arqueológicos dispersos pelo vasto império romano, Perkins contesta aquilo que considera ser a tese politicamente correcta conveniente ao actual status quo político defensor de uma unidade europeia. Esta tese defende uma integração de base entre bárbaros e romanos e, portanto,a noção de que as «invasões bárbaras» foram uma espécie de desenvolvimento do Império para novas formas sem rupturas substanciais.

Pelo contrário, recuperando o conceito proscrito de «civilização» (que deixa de entender como designação de superioridade de uma sociedade em relação a outras, mas como um grau maior de complexidade de uma sociedade – o caso romano), Perkins defende a posição segundo a qual a queda do Império correspondeu, de facto, a uma crise e ao fim de uma civilização. Embora tenha o cuidado de notar que a história do império do oriente foi diferente, Perkins sustenta que a queda do Império Romano foi uma mudança civilizacional e não um desenvolvimento em continuidade. Às vezes é bom que nos lembrem que a História deve ser escrita com objectividade mesmo que isso não convenha à propaganda mais conveniente ao regime. E, desse ponto de vista, o «pensamento arqueológico» pode ser uma verdadeira lição.

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