07/09/10

Uma Ideia da Índia de Alberto Moravia, por Kali

Eu gostava de ir à Índia! Mas, infelizmente, há uma série de razões que me levam a hesitar. A Índia é muito longe e a viagem muito cara; no escasso período do ano em que posso tirar férias, lá, é a época das monções; assusta-me a pobreza imensa que é intrínseca àquela cultura - não me agradam os milhões de mendigos que dormem atulhados nas ruas de Bombaim, de Calcutá ou de Nova Deli; tenho medo das doenças e da alimentação, receio o clima, etc, etc, etc.

E no entanto a Índia fascina-me, é um imenso continente que eu adorava visitar caso vencesse os meus medos congénitos e o meu patrão me aumentasse. Fascina-me uma civilização que tem da vida uma ideia desprendida, que duvida da existência e da realidade do «mundo dos sentidos»; adorava visitar Benares, ver os templos Hindús, a terra que foi o berço do Budismo, as suas árvores imponentes, os seus cheiros e cores intensas, a sua luz irreal e o seu calor insuportável. Infelizmente ainda não fui à Índia e não sei mesmo se algum dia, o fascínio que sinto em mim será mais forte que os meus medos.

Mas enquanto não me decido vou viajando para a Índia como posso: lendo o excelente Uma Ideia da Índia do escritor italiano Alberto Moravia, que, nos anos 60, fez a viagem que eu tanto gostava de fazer. Moravia andou por lá e escreveu várias crónicas sobre as suas viagens pela Índia que foram depois coligidas e constituem este livro. A editora é a Tinta da China e o livro está à venda por uns irrisórios 6 euros na companhia da revista Sábado. Já o tinha desfolhado na FNAC mas o preço não me convenceu. Mas por 6 euros é imperdível, que digo?, é imperdível por 50, é imperdível ponto final. Li-o num dia e nunca me senti tão perto, tão dentro daquele imenso continente como agora, conduzido pelas palavras certeiras de Moravia. Trata-se de uma viagem física, geográfica, cultural, política, histórica, filosófica e religiosa, enfim,o autor percorre uma civilização inteira e tem o poder de nos transportar com ele. Quem não leu, corra a comprar.

Nos próximos números a Sábado vai publicar uma série de livros da mesma colecção desta vez com protagonistas geográficos como o Japão, Nova York e a Pérsia. Pena que o excelente livro de Ruy Castro sobre o Rio de Janeiro, da mesma colecção, não figure na oferta da Sábado. O remédio é comprá-lo na FNAC por cerca de 20 patacos.

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