12/09/11

E o Povo, Pá? por Comandante


A Plaza da Revolution é, talvez, o único sítio bem conservado de Havana. Mais uma nota absurda na capital do non sense: deve haver quase tanto dinheiro investido aqui como no resto da cidade. Enquanto o povo ocupa os restos mortais de edifícios decadentes, o regime instalou-se nos edifícios contíguos à Praça da Revolução. Fidel injectou neste local uma quantidade obscena de dinheiro na construção de um mamarracho, o memorial José Marti (donde, aliás, se tem uma vista espantosa da cidade) e nas instalações do exército que rodeiam a imensidão desta praça tianamen. No interior do obelisco a José Marti há um dos vários museus da revolução da cidade e, dádiva suprema, uma grande sala que reúne uma colecção permanente de retratos de fidel de todas as formas e feitios: fidel a pensar, fidel a escrever, fidel a ler, fidel no WC, fidel cubista e fidel surrealista, fidel, fidel, fidel... Cúmulo do narcisismo, um dos retratistas chama-se Alexandre Castro (será primo, filho , neto?).

Dois dos edifícios que ladeiam a imensa praça são ícones revolucionários. Num está a famosa escultura estilizada de Che, versão Korda, em tamanho gigante com os dizeres «hasta la vitória, siempre». Noutro, menos conhecido, um desenho no mesmo estilo de Camilo Cienfuegos rematado com a inscrição«Vas bien, Fidel». .. Reza a lenda que durante um discurso em Havana, no início da revolução, Fidel teria perguntado a Camilo acerca da eficácia das suas palavras à multidão: «Voy bien, Camilo?». «Vas bien, Fidel», terá sido a resposta imortal de Cienfuegos.

São estas as palavras que ilustram o enorme desenho de Camilo na Praça da Revolução. Mas agora, em 2011, olhando para o gritante contraste entre a capital em ruínas e o esplendor sino-soviético da Praça da Revolução, as palavras de Camilo Cienfuegos soam profundamente irónicas: Vas bien, Fidel... Que é como quem diz, em português corrente, vais bem, vais, olha a linda merda que fizeste a este país...

Sem comentários: