Todo o
melómano que se preze tem o sonho irrealizável de ver o seu ídolo a dar um
concerto só para si. Pois bem, ontem foi o que pareceu. O resto do concerto até
podia ter sido horrível (não foi, muito pelo contrário, foi excelente), mas a
minha entrada no pavilhão atlântico a coincidir com a entrada do Iggy Pop em
palco a tocar No Fun, foi um momento absolutamente inesquecível que, só por si,
já teria valido a noite.
Eu descrevo
melhor: com um atraso de uns bons dez minutos eu e o Tex entramos no recinto do
festival; damos uma volta de reconhecimento, o ambiente está bom, o espaço é
fabuloso; perdemos mais uns minutos nisto até que olho para o relógio e digo ao
Tex, pá, já passa da hora, e dirigimo-nos ao pavilhão que não está lotado,
longe disso, está perfeito, carregado de energia e espaço mais que suficiente
para nos chegarmos à frente do palco. Ainda estamos a andar e a tentar escolher
o lugar onde ficar, quando as luzes se apagam e Iggy Pop é anunciado nos
altifalantes. O timing é perfeito, parece que o homem estava à nossa espera
para começar o concerto, não começo sem eles, fónix, o que me dá uma vaga
sensação de estar a realizar o tal sonho. Iggy, tronco nu pele de couro velho
curtido, entra a correr e ouvem-se os acordes de No Fun. No Fun, porra, uma das
minhas preferidas, o momento é mágico, o som está no máximo, a ferir os
tímpanos, nem se nota a diferença entre o baixo e a guitarra, o efeito é de
barragem sonora, um wall of sound ultra energético. Deliro, mas a magia do
momento não acaba no fim dos 4 minutos de No Fun porque, é incrível, o tipo
esteve mesmo à nossa espera, soam os acordes de I wanna be your dog. Duas das
minhas preferidas, do meu álbum preferido dos Stooges, sinto-me na Factory nos
anos 70. Com I wanna be your dog o pavilhão vem abaixo e eu também. São dez
minutos de pura magia, inesquecíveis!
O resto do
concerto sucedeu-se numa sequência imparável de grandes canções, como
Passenger, Real wild one, Lust for life, 1969 (outra do primeiro dos Stooges)…
Eu esperava ouvir Gardenia do último mas só tocaram Sunday e foi uma pena terem
deixado de fora China Girl que a memória de Bowie exigia.
O concerto
foi uma viagem no tempo, um regresso a 1970, a um concerto Punk com todos os
números do catálogo, desde o salto para a assistência, aos gritos de bad ass,
motherfucker e afins. O som estava exageradamente alto e, dois dias depois,
ainda sinto zumbidos nos ouvidos, mas punk é punk e é mesmo assim, trata-se de
uma explosão de energia e não de um desfile de virtuosismos instrumentais.
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