19/07/16

Viagens no Tempo, por Ziggy

Todo o melómano que se preze tem o sonho irrealizável de ver o seu ídolo a dar um concerto só para si. Pois bem, ontem foi o que pareceu. O resto do concerto até podia ter sido horrível (não foi, muito pelo contrário, foi excelente), mas a minha entrada no pavilhão atlântico a coincidir com a entrada do Iggy Pop em palco a tocar No Fun, foi um momento absolutamente inesquecível que, só por si, já teria valido a noite.

Eu descrevo melhor: com um atraso de uns bons dez minutos eu e o Tex entramos no recinto do festival; damos uma volta de reconhecimento, o ambiente está bom, o espaço é fabuloso; perdemos mais uns minutos nisto até que olho para o relógio e digo ao Tex, pá, já passa da hora, e dirigimo-nos ao pavilhão que não está lotado, longe disso, está perfeito, carregado de energia e espaço mais que suficiente para nos chegarmos à frente do palco. Ainda estamos a andar e a tentar escolher o lugar onde ficar, quando as luzes se apagam e Iggy Pop é anunciado nos altifalantes. O timing é perfeito, parece que o homem estava à nossa espera para começar o concerto, não começo sem eles, fónix, o que me dá uma vaga sensação de estar a realizar o tal sonho. Iggy, tronco nu pele de couro velho curtido, entra a correr e ouvem-se os acordes de No Fun. No Fun, porra, uma das minhas preferidas, o momento é mágico, o som está no máximo, a ferir os tímpanos, nem se nota a diferença entre o baixo e a guitarra, o efeito é de barragem sonora, um wall of sound ultra energético. Deliro, mas a magia do momento não acaba no fim dos 4 minutos de No Fun porque, é incrível, o tipo esteve mesmo à nossa espera, soam os acordes de I wanna be your dog. Duas das minhas preferidas, do meu álbum preferido dos Stooges, sinto-me na Factory nos anos 70. Com I wanna be your dog o pavilhão vem abaixo e eu também. São dez minutos de pura magia, inesquecíveis!

O resto do concerto sucedeu-se numa sequência imparável de grandes canções, como Passenger, Real wild one, Lust for life, 1969 (outra do primeiro dos Stooges)… Eu esperava ouvir Gardenia do último mas só tocaram Sunday e foi uma pena terem deixado de fora China Girl que a memória de Bowie exigia.

O concerto foi uma viagem no tempo, um regresso a 1970, a um concerto Punk com todos os números do catálogo, desde o salto para a assistência, aos gritos de bad ass, motherfucker e afins. O som estava exageradamente alto e, dois dias depois, ainda sinto zumbidos nos ouvidos, mas punk é punk e é mesmo assim, trata-se de uma explosão de energia e não de um desfile de virtuosismos instrumentais. 

No fim estávamos sem respiração, eu e o Tex, e a noite estava mais que ganha, mas parecia-me incrível, ainda faltavam os Massive Atack. Tudo na mesma noite! 




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