No decurso da viagem de avião, de Bruxelas até Beijing, fui
seguindo o plano de voo no écran do computador de bordo para me ir atordoando com
tanto sítio improvável que ia sobrevoando. O voo 936 da Henan Airlines dirigiu-se à Alemanha e, tanto quanto fui acompanhando,
sobrevoou a Polónia, a Lituânia, a Bielorrússia, a Ucrânia, entrou Rússia adentro,
sempre com a grafia das cidades a mudar e foi assim que me pareceu ter passado
pelas antigas províncias soviéticas (azerbeijão, uzbequistão, kazaquistão ou
coisa parecida). Mais tarde reconheci nomes mongóis acabados em ar, até que a grafia chinesa se foi
impondo e eu percebi que já sobrevoava o império do meio. Ficaram para trás nomes
como Novobirisk, Donetsk, Samara, Tashkent, muitos em ov e foi inesquecível ver o mar de Aral lá em baixo, com o sol a pôr-se,
centenas e centenas de pequenos lagos, um oceano em decomposição acelerada,
apeteceu-me pedir ao piloto do avião para aterrar para poder ver aquele
espectáculo mais de perto.
Já em Beijing, reparei na variedade de cartazes publicitários
em tanta língua diferente – eslavo, japonês, chinês, azeri e outros que não
pude identificar. Tanta diversidade, tantos caracteres diferentes! Pensei que é
estreita a noção do mundo que temos no ocidente, comparativamente, tão
homogéneo, com os mesmos caracteres linguísticos de Norte a Sul, ao contrário
do que por aqui se observa. O mundo é, do ponto de vista linguístico, muito,
mas mesmo muito diverso!
Sinto uma vaga sensação – contudo, não desagradável – de
estar perdido num sítio longínquo, num tempo e num espaço virados do avesso,
habitados por pessoas estranhas que falam uma língua ininteligível e nos olham
como se fôssemos provenientes de outra galáxia. Como podemos falar em aldeia global? Mcluhan, é certo, nunca
viajou para a China.
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