01/09/17

A Terra Vista do Espaço, por Zetung



No decurso da viagem de avião, de Bruxelas até Beijing, fui seguindo o plano de voo no écran do computador de bordo para me ir atordoando com tanto sítio improvável que ia sobrevoando. O voo 936 da Henan Airlines dirigiu-se à Alemanha e, tanto quanto fui acompanhando, sobrevoou a Polónia, a Lituânia, a Bielorrússia, a Ucrânia, entrou Rússia adentro, sempre com a grafia das cidades a mudar e foi assim que me pareceu ter passado pelas antigas províncias soviéticas (azerbeijão, uzbequistão, kazaquistão ou coisa parecida). Mais tarde reconheci nomes mongóis acabados em ar, até que a grafia chinesa se foi impondo e eu percebi que já sobrevoava o império do meio. Ficaram para trás nomes como Novobirisk, Donetsk, Samara, Tashkent, muitos em ov e foi inesquecível ver o mar de Aral lá em baixo, com o sol a pôr-se, centenas e centenas de pequenos lagos, um oceano em decomposição acelerada, apeteceu-me pedir ao piloto do avião para aterrar para poder ver aquele espectáculo mais de perto.

Já em Beijing, reparei na variedade de cartazes publicitários em tanta língua diferente – eslavo, japonês, chinês, azeri e outros que não pude identificar. Tanta diversidade, tantos caracteres diferentes! Pensei que é estreita a noção do mundo que temos no ocidente, comparativamente, tão homogéneo, com os mesmos caracteres linguísticos de Norte a Sul, ao contrário do que por aqui se observa. O mundo é, do ponto de vista linguístico, muito, mas mesmo muito diverso!

Sinto uma vaga sensação – contudo, não desagradável – de estar perdido num sítio longínquo, num tempo e num espaço virados do avesso, habitados por pessoas estranhas que falam uma língua ininteligível e nos olham como se fôssemos provenientes de outra galáxia. Como podemos falar em aldeia global? Mcluhan, é certo, nunca viajou para a China.

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